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Colorado Territory (1949) - Crítica

  • Foto do escritor: João Marcos Albuquerque
    João Marcos Albuquerque
  • há 4 dias
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 2 dias

Western crepuscular que opera num registro ambíguo entre a tradição e a ruptura. Versão westernizada de High Sierra (1941), o filme substitui o universo urbano do noir pelo cenário áspero do Velho Oeste — mas carrega consigo os ecos trágicos, o fatalismo e os dilemas morais que marcam o noir.


Ao centro está o criminoso Wes McQueen. Mas ao invés de acompanharmos o protagonista prestes a se redimir de seu passado, como em tantos westerns da época (vide Shane), Walsh nos oferece um personagem ainda mergulhado no crime — e, mesmo assim, digno de empatia.


Esse é um dos traços mais originais do filme: ele não espera a redenção do protagonista para que o espectador se identifique com ele. Pelo contrário, é enquanto planeja e executa o roubo que Wes McQueen se revela uma figura marcada pela solidão, pela lealdade à palavra empenhada, e por um desejo impossível de reconciliação com o mundo. Ao acompanhar essa trajetória derradeira, o filme articula uma tensão constante entre o impulso de mudança e a força do destino — como se, no território mítico do Oeste, a esperança de começar de novo estivesse sempre cercada por uma realidade que impede qualquer reinício (crítica ao sonho americano?).


O cenário das cidades-fantasma, que surgem como espaços de passagem e de refúgio, amplia esse sentimento de fim: são lugares mortos, abandonados, que espelham os próprios protagonistas, como se o destino dos amantes estivesse inscrito na arquitetura do Oeste em ruínas. Essas cidades — espaços onde o tempo parece suspenso — tornam-se metáforas do fracasso dos projetos de redenção, da promessa americana não cumprida. E é significativo que o dinheiro do roubo, produto de uma ação criminosa, seja destinado à reconstrução de uma cidade pela igreja. O filme sugere, com ironia, que a regeneração da cidade passa justamente pelos recursos que sua moral oficial condenaria.


A relação entre Wes McQueen e Colorado é o que há de mais trágico e belo no filme. Colorado, ao contrário da figura feminina clássica do western (a esposa, a pureza, o lar), é uma mulher do mundo marginal, tão marcada quanto ele pela exclusão e pela dureza da vida fora da lei. Mas é com ela que ele compartilha o sonho impossível de recomeço. O casal encontra nos escombros da sociedade a possibilidade de um afeto real.


Em Colorado Territory o herói não é heróico, a cidade não salva, o crime não se redime. Ao fim, resta um amor em ruínas, um Oeste feito de fantasmas, e uma civilização que nasce sobre o que já está morto. É um filme que, sob a ação e o romance, revela um ceticismo profundo sobre o mito fundador americano.

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